Relatório revela agravamento da crise climática em 2025

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Blog do IFZ | 04/11/2025

O mais recente State of the Climate Report — publicado na revista BioScience e assinado por um grupo internacional de cientistas liderados por William J. Ripple e Christopher Wolf — apresenta um retrato inquietante da Terra em 2025. O documento, intitulado A Planet On The Brink (“Um Planeta à Beira do Colapso”), descreve uma aceleração inédita do aquecimento global e o rompimento de limites ecológicos que sustentam a vida. Dos 34 “sinais vitais” planetários monitorados, 22 atingiram níveis recordes. O ano de 2024 foi o mais quente já registrado, com temperaturas possivelmente superiores às do último período interglacial, há cerca de 125 mil anos.

A combinação de fatores — redução dos aerossóis que mascaravam parte do aquecimento, feedbacks de nuvens e enfraquecimento dos sumidouros de carbono terrestres — pode estar acelerando o aquecimento além das previsões. O relatório aponta que o dióxido de carbono atmosférico ultrapassou 430 partes por milhão em 2025, e que o oceano atingiu a maior temperatura e acidez já medidas. O resultado foi o maior evento de branqueamento de corais da história, afetando 84% dos recifes do planeta.

O documento também revela um paradoxo: embora fontes renováveis de energia tenham alcançado recorde de uso, elas ainda representam apenas um trinta avos do consumo de combustíveis fósseis. As emissões globais subiram novamente em 2024, atingindo 40,8 gigatoneladas de CO₂ equivalente. A perda de cobertura florestal por incêndios chegou a um máximo histórico — um aumento de 370% nas florestas tropicais primárias em relação a 2023 — com impactos diretos sobre a biodiversidade e a emissão de gases de efeito estufa. A exceção positiva veio do Brasil, onde o desmatamento na Amazônia caiu cerca de 30% sob políticas reforçadas de conservação.

As consequências humanas já se manifestam com força. Somente entre 2024 e meados de 2025, desastres climáticos causaram danos estimados em mais de 18 trilhões de dólares e milhares de mortes. Inundações no Texas, incêndios na Califórnia e ciclones na África Austral ilustram o que os autores chamam de “hidroclimatic whiplash”: oscilações cada vez mais extremas entre secas e enchentes. A fauna silvestre também enfrenta colapso — mais de 3.500 espécies estão ameaçadas diretamente pelas mudanças climáticas.

O relatório alerta para riscos sistêmicos: o enfraquecimento da circulação meridional do Atlântico (AMOC), a perda acelerada das camadas de gelo da Groenlândia e da Antártica e a crescente escassez de água potável configuram ameaças interligadas que podem conduzir o planeta a um “caminho de estufa”, em que o aquecimento se retroalimenta mesmo sem novas emissões.

Apesar do tom grave, os autores enfatizam que soluções existem e são economicamente viáveis. A proteção de florestas e oceanos, a transição energética, a redução do consumo e dietas mais vegetais podem reduzir drasticamente as emissões. Eles destacam ainda o papel dos “pontos de inflexão sociais”: pequenas, mas persistentes mobilizações não violentas capazes de desencadear transformações políticas e culturais rápidas.

O State of the Climate 2025 é menos um alerta e mais um chamado à responsabilidade coletiva. Os cientistas concluem que “cada fração de grau evitada importa”. Em meio ao caos climático crescente, o relatório convida à ação — não por desespero, mas por compromisso ético com a vida e a justiça no planeta que ainda pode ser salvo.

Baixe aqui o relatório “The 2025 State of the Climate Report: a Planet On The Brink

Publicado na Bioscence
https://academic.oup.com/bioscience/advance-article/doi/10.1093/biosci/biaf149/8303627
BioScience, biaf149, https://doi.org/10.1093/biosci/biaf149