Blog do IFZ | 28/07/2025
Lançado nesta segunda-feira (28), em Adis Abeba, Etiópia, o relatório The State of Food Security and Nutrition in the World SOFI 2025 – Addressing high food price inflation for food security and nutrition, durante a abertura do UN Food Systems Summit +4. O documento — referência global no monitoramento da fome e da nutrição — é publicado anualmente pelas cinco agências das Nações Unidas responsáveis pela agenda alimentar e nutricional: FAO, IFAD, WFP, UNICEF e OMS.
Este ano, o relatório apresenta uma notícia aguardada por técnicos e gestores brasileiros: o Brasil foi oficialmente retirado do Mapa da Fome da ONU, menos de três anos após ter retornado à lista em decorrência da pandemia e do desmonte de políticas sociais. A taxa de subalimentação no país ficou abaixo de 2,5%, o limite definido pela FAO para caracterizar uma situação fora da fome estrutural. Com isso, o país torna-se o primeiro a sair do mapa pela segunda vez, tendo alcançado essa condição anteriormente em 2014.
Baixe aqui o relatório “The State of Food Security and Nutrition in the World 2025 – Addressing high food price inflation for food security and nutrition“
Baixe aqui a versão resumida do relatório “In Brief to The State of Food Security and Nutrition in the World 2025” em inglês
Baixe aqui a versão resumida do relatório “Versión Resumida de El Estado de la Seguridad Alimentaria y la Nutrición en el Mundo 2025” em espanhol
1. Redução global da fome: sinal de reversão após anos críticos
O relatório SOFI 2025 revela que 8,2% da população mundial enfrentou fome em 2024, uma leve, porém contínua queda em relação a 2023 (8,5%) e 2022 (8,7%). Trata-se de uma tendência que começa a reverter os efeitos dramáticos da crise alimentar intensificada entre 2020 e 2021. A América do Sul, o Sudeste Asiático e partes da Ásia Meridional lideram esse processo, com o Brasil sendo uma das nações que mais contribuíram para a melhora dos indicadores regionais.
2. América Latina e Caribe: desempenho consistente na segurança alimentar
A América Latina abriga hoje cerca de 34 milhões de pessoas subalimentadas, o que representa 5,1% da população da região. Embora ainda elevada, essa taxa é significativamente inferior à média global e demonstra os efeitos acumulados de políticas públicas voltadas à inclusão produtiva, transferência de renda e apoio à agricultura familiar — dimensões centrais da estratégia brasileira nos últimos anos.
3. Insegurança alimentar moderada e grave ainda afeta bilhões
O número total de pessoas que enfrentaram insegurança alimentar moderada ou severa em 2024 foi estimado em 2,3 bilhões, ou 28% da população mundial. Apesar da dimensão ainda alarmante, o índice representa uma queda gradual desde 2021, indicando que estratégias mais coordenadas de proteção social e estabilização de preços vêm surtindo efeito, especialmente nos países com sistemas institucionais mais resilientes.
4. Custo da alimentação saudável aumentou, mas acesso melhorou em partes do mundo
O custo global de uma dieta saudável aumentou para US\$ 4,46 (PPC) por pessoa/dia, frente a US\$ 4,30 em 2023. Apesar da alta nos preços, o número de pessoas que não podem pagar por essa dieta caiu de 2,76 bilhões em 2019 para 2,60 bilhões em 2024. Esse paradoxo se explica por políticas compensatórias e melhoria de renda em países como o Brasil, ao passo que na África e em países de baixa renda, o acesso piorou, ampliando desigualdades.
5. Infância: melhora na nutrição e no aleitamento materno
O relatório destaca avanços no combate à desnutrição infantil crônica: a prevalência global de baixa estatura (stunting) caiu de 26,4% em 2012 para 23,2% em 2024. O aleitamento materno exclusivo até os seis meses aumentou de 37% para 47,8% entre 2012 e 2023. Em contraste, os índices de emagrecimento agudo (wasting) e sobrepeso infantil permaneceram estagnados, indicando que desafios persistem na qualidade e diversidade das dietas infantis.
6. Inflação alimentar: impacto duradouro da pandemia e da guerra na Ucrânia
O aumento dos preços dos alimentos entre 2021 e 2023 teve efeitos duradouros. A inflação alimentar global atingiu 13,6% em janeiro de 2023, ultrapassando a inflação geral e comprometendo o poder de compra de milhões de famílias. Embora os preços tenham começado a recuar em 2024, permanecem elevados, sobretudo em países de baixa renda, onde o impacto foi amplificado por fragilidades fiscais e cambiais.
7. Relação direta entre inflação e insegurança alimentar
O relatório quantifica essa relação: um aumento de 10% nos preços dos alimentos pode elevar em 3,5% a insegurança alimentar moderada ou severa e em 1,8% os casos de fome severa. Em países com elevada desigualdade de renda e gênero, os efeitos são ainda mais acentuados, afetando sobretudo mulheres e populações rurais com menor acesso a redes de proteção social.
8. Nutrição e desigualdade nos preços: alimentos saudáveis ainda são os mais caros
Frutas, vegetais e alimentos minimamente processados seguem sendo os mais caros por caloria. Em contrapartida, alimentos ultraprocessados, com menor valor nutricional, têm preços mais baixos e crescente presença nas dietas globais — fenômeno que preocupa os organismos internacionais de saúde e nutrição. O relatório alerta para a substituição progressiva de dietas tradicionais por produtos industrializados em ambientes urbanos pobres.
9. Recomendações estruturais para prevenir novas crises alimentares
O SOFI 2025 recomenda um conjunto de políticas articuladas:
- Respostas fiscais direcionadas, como alívio tributário sobre alimentos essenciais;
- Coordenação entre políticas fiscais e monetárias, com metas de inflação ancoradas e proteção social sustentada;
- Investimento em infraestrutura agrícola, armazenamento e transporte, para reduzir perdas e melhorar a resiliência das cadeias alimentares;
- Transparência de mercado e dados de qualidade, fundamentais para orientar decisões públicas e privadas.
10. O Brasil como exemplo: política pública que transforma estrutura social
O caso brasileiro ocupa lugar de destaque no relatório. Desde 2023, o país passou por uma reversão robusta da insegurança alimentar. A modernização do Cadastro Único, a reestruturação do Bolsa Família, a criação do Brasil Sem Fome e a implantação do III Plansan formaram uma malha integrada de combate à fome. Um dado ilustra o alcance da política: mais de 8,6 milhões de famílias deixaram o Bolsa Família desde 2023 por aumento de renda — e não por exclusão administrativa. Em julho de 2025, um milhão de famílias saíram do programa por terem superado os critérios de vulnerabilidade, com suporte da Regra de Proteção e da geração de empregos formais.
Essas ações, somadas à queda da pobreza extrema para 4,4% e da pobreza geral para 23%, mostram que as políticas de proteção social não apenas mitigaram os efeitos da fome, mas criaram condições reais de transição para a autonomia. O Brasil, que há dois anos somava 33 milhões de pessoas em situação de fome, agora entrega ao mundo um exemplo concreto de resposta estruturada, articulada e eficaz — um feito reconhecido internacionalmente neste novo marco do relatório SOFI 2025.
Baixe aqui a versão resumida do relatório “In Brief to The State of Food Security and Nutrition in the World 2025” em inglês
Baixe aqui a versão resumida do relatório “Versión Resumida de El Estado de la Seguridad Alimentaria y la Nutrición en el Mundo 2025” em espanhol



