Blog do IFZ | 09/10/2025
Em um momento de crescentes desigualdades e crise climática, o novo Policy Brief da Cátedra Josué de Castro, “Transformando a Monotonia do Sistema Agroalimentar Global: Soluções Colaborativas para a Saúde, as Desigualdades e a Sustentabilidade” — aceito para publicação pelo T20, sob a presidência sul-africana do G20 — lança um alerta urgente: o sistema agroalimentar dominante, baseado na concentração e na homogeneização, ameaça a segurança alimentar global, a saúde humana e a sustentabilidade dos ecossistemas.
Mais de 28% da população mundial enfrenta algum grau de insegurança alimentar, enquanto 40% dos adultos e 20% das crianças já vivem com sobrepeso ou obesidade. Essa contradição — fome e má nutrição coexistindo em escala global — expõe o fracasso de um sistema agroalimentar concentrado, homogêneo e insustentável.
Os autores — pesquisadores da Universidade de São Paulo, da Embrapa, do Instituto Comida do Amanhã, do Cirad (França) e de outras instituições — definem esse cenário como uma “tríplice monotonia”:
- Monotonia agrícola, em que apenas seis culturas concentram 75% das calorias consumidas no mundo, reduzindo a biodiversidade e ampliando a vulnerabilidade a crises climáticas;
- Monotonia na criação animal, marcada por homogeneização genética e uso excessivo de antibióticos, que alimenta a resistência antimicrobiana e ameaça a saúde pública;
- Monotonia na dieta, impulsionada pela expansão dos ultraprocessados e pelo consumo excessivo de carne, fatores centrais da atual pandemia de obesidade.
Essas distorções geram custos ocultos estimados em US$ 12 trilhões anuais — gastos com doenças evitáveis, degradação ambiental e perda de biodiversidade. Segundo o documento, o desafio não é apenas técnico, mas civilizatório: repensar o sistema alimentar global para equilibrar segurança alimentar imediata e sustentabilidade de longo prazo.
O Policy Brief propõe cinco frentes estratégicas de ação:
- Fortalecer os serviços ecossistêmicos e investir em infraestrutura verde e tecnológica para adaptação climática;
- Regenerar solos degradados e ampliar a autonomia dos agricultores, reduzindo a dependência de insumos controlados por grandes corporações;
- Regulamentar o uso de antibióticos na produção animal e promover práticas de Saúde Única (One Health);
- Reduzir o consumo de ultraprocessados e incentivar dietas baseadas em alimentos in natura e minimamente processados;
- Criar uma governança global equitativa, que assegure justiça social e ambiental na transição para sistemas alimentares sustentáveis.
Fruto de pesquisas colaborativas entre instituições das Américas, da África e da Europa, o estudo reforça o papel estratégico do G20 na condução de uma transformação sistêmica do sistema agroalimentar. A mensagem é clara: o futuro da alimentação global depende de escolhas políticas e sociais corajosas, capazes de substituir a monotonia produtiva pela diversidade, a desigualdade pela solidariedade e a degradação pela regeneração.
Baixe aqui o Policy Brief “Transformando a Monotonia do Sistema Agroalimentar Global: Soluções Colaborativas para a Saúde, as Desigualdades e a Sustentabilidade”
Baixe também as apresentações de Arilson Favareto, “Sistemas Alimentares Saudáveis e Resilientes Frente às Mudanças Climáticas”; de Juliana Tângari, “Resiliência Alimentar a Partir das Cidades: A Chave da Abordagem Sistêmica”; e de Araci Kamiyama, “Agroecologia e Resiliência às Mudanças Climáticas“, apresentadas no Fórum Ciência, Tecnologia e Parcerias Estratégicas para Sistemas Alimentares Resilientes e Sustentáveis: Uma Abordagem ‘Do Campo à Mesa’, realizado na Unicamp, em outubro de 2025.
Policy Brief publicado originalmente pela Cátedra Josué de Castro
https://catedrajc.fsp.usp.br/publicacao/transformando-a-monotonia-do-sistema-agroalimentar-global/
