Por Jamil Chade, colunista do UOL, em Nova York | 02/02/2025
O presidente americano Donald Trump anunciou neste domingo (2) o corte de recursos para a África do Sul, país de origem de Elon Musk, bilionário que tem cargo no novo governo americano.
Trump não especificou quais fundos seriam cortados. Em 2023, a ajuda ao desenvolvimento do governo dos EUA para a África do Sul chegou a US$ 400 milhões, principalmente para o setor de saúde.
A motivação de Trump, segundo o americano, seriam supostas violações de direitos humanos por parte do governo sul-africano em sua política de distribuição de terras.
Em suas redes sociais, Trump acusou a África do Sul de estar “confiscando” terras e “tratando algumas classes de pessoas muito ruim”. Embora não tenha feito nenhuma menção específica, acredita-se que o americano esteja se referindo a terras ocupadas por brancos sul-africanos, já que defendeu o interesse desse grupo em outras ocasiões.
“É uma situação ruim que a mídia de esquerda radical não quer nem mencionar”, disse o presidente.
“Uma VIOLAÇÃO maciça dos direitos humanos, no mínimo, está acontecendo para que todos vejam. Os Estados Unidos não vão tolerar isso, nós vamos agir. Além disso, cortarei todos os financiamentos futuros para a África do Sul até que uma investigação completa dessa situação seja concluída”, escreveu.
A questão da reforma agrária é ainda um dos temas mais delicados na África do Sul. Mais de 30 anos depois do fim do regime do Apartheid, grande parte das propriedades continua na mão da minoria branca.
Dados oficiais indicam que 72% das propriedades estão nas mãos dos brancos, que representam 7% da população do país.
Em janeiro, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, assinou um projeto de lei que estipula que o governo pode, em determinadas circunstâncias, oferecer “compensação nula” pela terra que decidir expropriar por interesse público.
O governo insiste que isso não significa que haja um processo arbitrário e que negociações com proprietários serão privilegiadas. Mas alas mais conservadoras consideraram o ato do sul-africano como uma ameaça.
Em seu primeiro mandato, Trump já havia criticado a suposta ação por parte de negros sul-africanos de “matar fazendeiros brancos”. O tema, porém, não resultou em qualquer tipo de retaliação por parte do republicano.
Desta vez, diplomatas estrangeiros em Pretória interpretam a ação de Trump como um sinal de que os americanos irão se envolver em debates domésticos, sempre que acharem que têm a legitimidade para agir.
Além disso, Elon Musk, que nasceu na África do Sul, tem sido alvo de acusações em seu país de origem por disseminar grupos supremacistas brancos.
Numa recente entrevista, Errol Musk, pai de Elon, lembrou como “os brancos estavam com medo” quando Nelson Mandela assumiu o poder. “Os brancos não estavam tranquilos com negros administrando país”, disse.
Publicado originalmente no UOL
https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2025/02/02/trump-corta-fundos-e-ataca-reforma-agraria-da-africa-do-sul-pais-de-musk.htm