Flutuações Recentes nos Preços dos Alimentos no Brasil

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Por José Giacomo Baccarin e Gustavo Jun Yakushiji | 15/06/2025

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Introdução

Consideram-se dois movimentos nos preços dos alimentos: entre os anos e entre os meses de determinado ano. Entre os anos, observa-se que os alimentos no Brasil têm ficado relativamente mais caros que os outros bens de consumo desde 2007, caracterizando-se a chamada inflação de alimentos. Sugere-se que os quase 19 anos até agora transcorridos sejam divididos em três fases: a primeira, de 2007 a 2019; a segunda, coincidente com a pandemia da Covid-19, de 2020 a 2022; e a terceira, de 2023 em diante.

Devido à sazonalidade da produção agrícola, é comum verificar flutuações em seus preços no mesmo ano, que tendem a aumentar nos meses de entressafra. Isto é muito comum para produtos perecíveis, cultivados ou criados em condições não controladas por estufas, galpões etc., e sem comércio internacional significativo.

Nesse texto, para o período de janeiro de 2022 a maio de 2025, é feita uma comparação entre a variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) e do IPAB (Índice de Preços de Alimentação e Bebidas). Também se faz uma comparação entre o IPAD (Índice de Preços da Alimentação no Domicílio) e o IPAF (Índice de Preços da Alimentação Fora do Domicílio). Adicionalmente, verifica-se como os preços dos itens da Alimentação no Domicílio variaram nos primeiros cinco meses de 2025.

Usam-se informações do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), relativas ao IPCA e seus componentes, como um de seus nove grupos, o IPAB (Índice de Preços de Alimentação e Bebidas). Este é subdividido em dois subgrupos: alimentação no domicílio, que resulta no IPAD, e fora do domicílio, no IPAF. O IPAD é composto por 16 itens e por 159 subitens (IBGE, 2025).

Preços dos Alimentos e ao Consumidor

Na Figura 1, pode-se perceber que as flutuações no IPAB são mais intensas que no IPCA. Também se percebe um padrão de flutuação do IPAB em determinado ano, com os preços elevando-se nos meses mais quentes e chuvosos, em que a produção de frutas, legumes e verduras é menor. Em 2022, isto não fica tão nítido, porque houve um movimento adicional de redução dos preços dos anos da Covid-19 para os anos posteriores, verificável a partir do segundo semestre de 2022. Repare-se que os maiores valores do IPAB ocorreram justamente em março e abril de 2022.

Figura 1 Variação mensal do IPAB e do IPCA, Brasil, janeiro de 2022 a maio de 2025

Na Tabela 1, evidencia-se que, no período todo e nos anos, com exceção de 2023, o IPAB foi maior que o IPCA, com os alimentos pressionando para cima os preços ao consumidor. A exceção de 2023 está relacionada com a diminuição dos preços dos alimentos entre 2022 e 2023, após ter-se atingido o pico em março de 2022. Ao se comparar os cinco primeiros meses de 2024 e de 2025, enquanto o IPCA crescia, o IPAB diminuía, indicando que, em 2025, toda a pressão altista dos preços dos alimentos tende a ser menor que em 2024.

Tabela 1 Média mensal e estatísticas básicas do IPCA, IPAB, IPAD e IPAF, Brasil, janeiro 2022 a maio de 2025

Os valores do desvio padrão e do coeficiente de variação do IPAB mostram-se maiores que os do IPCA, confirmando que as flutuações nos preços dos alimentos são mais intensas que as do conjunto dos preços ao consumidor.

Preços dos Alimentos No e Fora do Domicílio

A Figura 2 permite constatar que a alimentação no domicílio apresenta flutuações mais significativas que a alimentação fora do domicílio. Esta é menos afetada pelas flutuações dos preços das matérias-primas agrícolas do que a alimentação no domicílio. Nos custos da alimentação fora do domicílio, há grande participação de preços de serviços urbanos, como aluguéis, e de salários, o que permite diluir a variação dos preços agrícolas.

Figura 2 Variação mensal do IPAD e do IPAF, Brasil, janeiro de 2022 a maio de 2025

Voltando à Tabela 1, verifica-se que a variação de preços da alimentação no domicílio, com exceção de 2023, foi maior que a fora do domicílio. Ademais, observa-se que os preços da alimentação fora do domicílio flutuam bem menos ao longo do tempo, com seu desvio padrão e coeficiente de variação registrando valores relativamente reduzidos.

Fontes do Encarecimento dos Alimentos no Domicílio

A Tabela 2 apresenta a importância, na alimentação no domicílio, dos 16 itens considerados pelo IBGE, com as suas variações de preços e contribuição para o IPAD, nos primeiros cinco meses de 2025. Quatro itens registraram queda de preços, com destaque para cereais, leguminosas e oleaginosas, cuja redução foi de 10,35%, devido às quedas observadas nos preços dos subitens do arroz (11,62%) e do feijão preto (22,37%).

Tabela 2 Variação de preços e contribuição dos itens da alimentação no domicílio, Brasil, janeiro a maio de 2025

Os quatro maiores aumentos foram observados nos itens tubérculos, raízes e legumes; bebidas e infusões; aves e ovos; hortaliças e verduras. O destaque no primeiro desses itens foi o aumento no preço do subitem tomate, de 51,57%. No item bebidas e infusões, o grande aumento foi no subitem café moído, de 42,10%. Em aves e ovos, a pressão veio do subitem ovos, com aumento de 24,83%. Em hortaliças e verduras, os aumentos foram mais generalizados. É possível que, nos próximos meses, observe-se menor pressão de preços desses itens, em especial do primeiro e do quarto.

Levando em conta a importância de cada item no consumo no domicílio, a maior contribuição para o IPAD, de 38,86%, veio do item bebidas e infusões, seguida de tubérculos, raízes e legumes, com 23,83%. A soma desses dois itens ultrapassa 60%, apontando que, muitas vezes, as pressões nos preços dos alimentos no domicílio são muito localizadas em poucos produtos com variações de preços muito altas.

José Giacomo Baccarin é Professor Economia Rural e Política Agrícola UNESP, campus Jaboticabal (SP). Credenciado Pós-Graduação Geografia UNESP, campus Rio Claro (SP). Diretor Instituto Fome Zero. E-mail: [email protected]

Gustavo Jun Yakushiji é Engenheiro Agrônomo e Mestrando em Estatística e Experimentação Agronômica pela ESALQ/USP.


Referência

IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Índice de Preços ao Consumidor Amplo. Disponível em https://sidra.ibge.gov.br/home/ipca/brasil. Acesso em 13 de junho de 2025.

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