Nutrição infantil e o empoderamento econômico das mulheres no Brasil: o elo invisível do desenvolvimento

  • Tempo de leitura:4 minutos de leitura

Mulheres que trabalham, crianças que crescem melhor!
Pesquisa mostra que o empoderamento econômico feminino é determinante para a nutrição infantil no Brasil

Blog do IFZ | 27/10/2025

Ao revisitar um tema antigo sob uma perspectiva renovada — a relação entre o trabalho das mulheres e a nutrição infantil no Brasil —, o estudo Child undernutrition and women’s empowerment in Brazil, dissertação de mestrado da economista Luciana Arlidge pela Universidade de Lund, Suécia, parte de uma constatação incômoda: embora o país tenha avançado notavelmente na redução da fome, ainda convive com desigualdades profundas que atingem, com especial dureza, as mães e suas crianças pequenas.

A pesquisa analisou dados do IBGE sobre os hábitos de consumo das famílias brasileiras (POF 2002-2003 e 2008-2009) para investigar como a escolaridade, a renda e, sobretudo, a inserção das mães no mercado de trabalho se relacionam com o estado nutricional de crianças menores de cinco anos, medido por indicadores de altura e peso. A análise, de base microeconômica, buscou compreender de que forma a autonomia feminina se traduz em melhores condições de desenvolvimento infantil.

Os resultados são expressivos. Crianças cujas mães possuem trabalho remunerado e renda própria apresentam melhores índices nutricionais, e o impacto materno se mostrou superior ao paterno. A presença da mulher no mercado de trabalho, portanto, revela-se não apenas como fator de renda, mas como elemento de transformação social.

Luciana Arlidge observa que o emprego das mulheres amplia o poder de decisão dentro de casa, fortalece a autoestima e facilita o acesso à informação — aspectos que se refletem diretamente na qualidade dos cuidados com os filhos. Para ela, a autonomia financeira feminina é uma ponte entre o crescimento econômico e o desenvolvimento humano.

O estudo reforça que o empoderamento das mulheres deve ser entendido como uma estratégia essencial de combate à desnutrição e à pobreza. Luciana argumenta que políticas públicas voltadas à educação, ao emprego digno e à proteção social das mulheres produzem efeitos multiplicadores: fortalecem as famílias, promovem equidade e impulsionam o futuro do país.

Nas palavras da pesquisadora, “o bem-estar das crianças brasileiras depende, em grande medida, da força e da autonomia de suas mães”. Sua dissertação deixa uma mensagem serena e poderosa: quando uma mulher conquista espaço e independência, toda uma geração tem mais chance de crescer saudável — em corpo, em mente e em esperança.

Metodologia e achados

A dissertação Child Undernutrition and Women’s Empowerment in Brazil analisou se a participação feminina no mercado de trabalho contribui positivamente para a nutrição infantil no país. Apesar dos reconhecidos avanços do Brasil no combate à fome, ainda persistem desafios como a extrema pobreza e as desigualdades de renda e gênero — fatores que afetam diretamente a saúde das crianças. A desnutrição nos primeiros anos de vida pode comprometer o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo, reduzindo significativamente as chances de uma vida saudável e produtiva no futuro.

Utilizando dados nacionais do IBGE sobre os hábitos de consumo das famílias brasileiras (POF 2002–2003 e 2008–2009), os pesquisadores realizaram uma análise microeconômica para investigar a correlação entre o estado nutricional de crianças menores de cinco anos — medido por indicadores de altura e peso — e o status socioeconômico (SES) das mães, incluindo escolaridade, renda e ocupação.

O principal achado revela que mães com renda própria e inseridas no mercado de trabalho exercem um impacto positivo sobre a nutrição infantil — superior ao impacto observado entre os pais. O estudo reforça que o empoderamento econômico das mulheres vai além da equidade de gênero: trata-se de uma estratégia fundamental para o desenvolvimento humano. As evidências indicam que o Estado deve priorizar políticas públicas que ampliem o acesso das mulheres a empregos dignos, educação de qualidade e proteção social, promovendo benefícios diretos para as famílias e para o futuro do país.

Baixe aqui o estudo “Child undernutrition and women’s empowerment in Brazil

O estudo também está disponível para download no repositório da Universidade de Lund
http://lup.lub.lu.se/student-papers/record/8953439