Por José Giacomo Baccarin e Gustavo Jun Yakushiji | 19/11/2025
Baixe aqui o estudo “As Variações Diferenciadas nos Preços do Alimentos No e Fora do Domicílio“
Introdução
O anúncio do resultado do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) relativo ao mês de outubro de 2025 trouxe um alívio generalizado quanto à inflação ao consumidor no Brasil. Ela foi de apenas 0,09% no mês e, nos últimos 12 meses, de novembro de 2024 a outubro de 2025, ficou na casa dos 4,68%, aproximando-se do limite superior da meta de inflação considerada pelo Banco Central, que é 4,5%.
Quanto aos alimentos, o IPAB (Índice de Alimentos e Bebidas) registrou um valor de apenas 0,01%, em outubro de 2025, menor que o IPCA. Contudo, sob a influência do ocorrido nos meses finais de 2024 e iniciais de 2025, nos últimos 12 meses encerrados em outubro de 2025, o IPAB variou 5,50%, mantendo-se acima do IPCA, embora com a diferença em queda.
O grupo Alimentação e Bebidas contêm dois subgrupos, Alimentação no Domicílio e Alimentação Fora do Domicílio, com pesos respectivos no IPCA de 15,75% e 5,94%, em outubro de 2025 (IBGE, 2025). Neste Boletim, propõe-se verificar como vêm se comportando os preços desses dois subgrupos, o IPAD (Índice de Preços da Alimentação no Domicílio) e o IPAF (Índice de Preços da Alimentação Fora do Domicílio), entre janeiro de 2023 e outubro de 2025, comparando com o ocorrido no período da pandemia da Covid 19, de 2020 a 2022, em que ocorreram situações excepcionais. Os gastos dos consumidores com alimentação fora de casa tenderam a cair, em face às restrições à mobilidade das pessoas, enquanto os gastos com alimentação no domicílio se mantiveram ou até foram reforçados, dadas as mudanças de hábitos de consumo durante a pandemia.
Em última instância, os preços dos dois subgrupos da Alimentação e Bebidas sofrem influências dos preços das matérias primas agrícolas, mas com diferentes intensidades. Isso porque outros condicionantes acabam influenciando a variação do IPAD e do IPAF. Procura-se apontar quais são esses condicionantes, como segundo objetivo deste Boletim.
Basicamente, são usadas informações do IBGE relativas ao IPCA, em nível nacional, e de seus componentes, o grupo de Alimentação e Bebidas e seus dois subgrupos, Alimentação no Domicílio e Alimentação Fora do Domicílio. Não se abordam os componentes mais específicos do IPCA, que são os itens e subitens.
A Influência da Pandemia da Covid 19 sobre os Preços da Alimentação
A Figura 1 mostra que os preços da Alimentação e Bebidas no Brasil registraram valores mais altos nos anos da pandemia da Covid 19, em decorrência do acontecido no subgrupo Alimentação no Domicílio. O aumento médio do IPAD no período 2020-22 foi de 13,20%, em linha com ocorrido com os preços internacionais dos alimentos, que se elevaram vigorosamente nessa fase (FAO, 2025). Ademais, houve diminuição nos gastos dos consumidores com viagens, vestuário e alimentação fora do domicílio, entre outros, com parte deles sendo canalizada para a Alimentação no Domicílio.

Por sua vez, o IPAF elevou-se um pouco menos que a metade do IPAD, média de 6,48%, durante a pandemia. Houve queda de renda da população e restrição ao seu deslocamento, diminuindo a demanda por bens e serviços da Alimentação Fora do Domicílio. Com isso, bares, restaurantes e lanchonetes não conseguiram repassar parte do aumento de seus custos, derivado do aumento dos preços das matérias primas agrícolas, aos consumidores.
Ao analisar o período 2023 a 2025, inicialmente, deve-se observar que os valores de 2025 foram anualizados, proporcionalmente aos 10 meses já transcorridos. A média do IPAD desses três anos foi de apenas 3,16%, com 2024 destoando, com valor de 8,22%. Neste ano, houve grande desvalorização do Real e pressões específicas de preços originadas das carnes bovinas e suínas e do café (vide boletins anteriores).
Após o fim das restrições ao deslocamento das pessoas e com o aumento da renda do trabalho, após 2023, observou-se que o IPAF se mostrou mais alto que o IPAB em dois dos três anos. Na média, o IPAF variou 6,21%, contra 3,98% do IPAB. A frequência de bares, restaurantes e lanchonetes tendeu a recuperar o nível pré-pandemia da Covid 19.
A flutuação maior entre um período e outro foi observada no preço da Alimentação no Domicílio. Este subgrupo é impactado mais rapidamente pelas flutuações dos preços das matérias primas agrícolas, enquanto a Alimentação Fora do Domicílio sofre maiores influências das variações de demanda dos preços de serviços urbanos, como os aluguéis, o que acaba por amortizar, pelo menos no curto prazo, as variações de preços agrícolas.
Flutuações Mensais nos Preços dos Alimentos
Na Figura 2 fica nítido que ocorreram maiores flutuações nos preços da Alimentação no Domicílio do que na Alimentação Fora do Domicílio. Em termos médios, os preços do primeiro subgrupo variaram 0,66%, nos setenta meses de janeiro de 2022 a outubro de 2025, contra 0,51% de variação no segundo grupo. No coeficiente de variação, a diferença entre os dois subgrupos é bem mais significativa, com valor de 154,19% para a Alimentação no Domicílio e 58,49% para a Alimentação Fora do Domicílio.

Deve-se destacar que na Alimentação no Domicílio há uma flutuação sazonal de preços entre os meses de um mesmo ano, acompanhando a sazonalidade da produção, em especial de produtos perecíveis, consumidos in natura e sem comércio internacional. A isto se somou uma modificação na intensidade de aumento do IPAD, entre os anos da Covid 19 e os seguintes, em que os aumentos foram, na média, menos significativos. Tais flutuações foram verificadas com bem menor intensidade no caso da Alimentação Fora do Domicílio.
José Giacomo Baccarin é Professor Economia Rural e Política Agrícola UNESP, campus Jaboticabal (SP). Credenciado Pós-Graduação Geografia UNESP, campus Rio Claro (SP). Diretor Instituto Fome Zero. E-mail: [email protected]
Gustavo Jun Yakushiji é Engenheiro Agrônomo e Mestrando em Estatística e Experimentação Agronômica pela ESALQ/USP.
Referências
FAO. FAO Food Price Index. World Food Situation, 2025. Disponível em: https://www.fao.org/worldfoodsituation/foodpricesindex/en/. Acesso em: 20 de nov. 2025.
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Índice de Preços ao Consumidor Amplo. Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA, 2025. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/home/ipca/brasil.
Baixe aqui o estudo “As Variações Diferenciadas nos Preços do Alimentos No e Fora do Domicílio“
