Agroecologia e desenvolvimento territorial sustentável em Nova Friburgo e Mendoza

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Blog do IFZ | 28/04/2025

Baixe aqui o estudo “Estratégias de produção e desenvolvimento com base na agroecologia: análise comparada de estudos de casos em Nova Friburgo, Brasil, e Mendoza, Argentina

Há um sopro novo atravessando as paisagens rurais da América Latina. Em meio às crises ecológicas, ao esgarçamento dos modos de vida tradicionais e à busca incessante por alimentos que respeitem a vida, a agroecologia se ergue não apenas como prática agrícola, mas como um gesto civilizatório — um convite à reconstrução dos laços entre homem e natureza, entre território e futuro. É nesse espírito que se inscreve o estudo “Estratégias de produção e desenvolvimento com base na agroecologia: análise comparada de estudos de casos em Nova Friburgo, Brasil, e Mendoza, Argentina“, publicado nos Cadernos de Ciência & Tecnologia, da Embrapa, e conduzido por Iranilde de Oliveira Silva, Facundo Martín e Renato Linhares de Assis.

Ao tomar Nova Friburgo e Mendoza como territórios de análise, os autores nos levam a percorrer geografias distintas, mas conectadas por sonhos semelhantes: o de uma produção agrícola que não destrua os recursos naturais que a sustentam, o de uma economia que não abandone seus produtores, o de um modo de vida que não despreze suas raízes. A agroecologia, aqui, não é reduzida a um receituário técnico; é compreendida em sua potência de transformação social, econômica e ambiental.

Nova Friburgo, com sua história atrelada ao abastecimento da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, viu-se impactada, como tantas outras regiões, pelos imperativos da Revolução Verde. Monocultivos e insumos químicos reconfiguraram a paisagem e os modos de cultivo, impondo uma lógica que, mais tarde, revelaria suas fragilidades. Foi preciso que a terra estremecesse — que a tragédia das chuvas, dos deslizamentos, das perdas, marcasse o território em 2011 — para que brotasse, do chão ferido, um outro olhar. Nesse cenário, práticas e sistemas agroecológicos germinaram: plantas de cobertura regenerando solos exauridos, diversificação resgatando a biodiversidade perdida. Políticas públicas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) tornaram-se alicerces desse novo projeto rural, garantindo não apenas mercados justos, mas autonomia e dignidade às famílias agricultoras e oferta local de alimentos saudáveis.

Em Mendoza, Argentina, o desafio adquire contornos mais áridos. A vitivinicultura voltada para a exportação concentra terras e águas, relegando a agricultura familiar a uma condição de resistência. É nesse chão seco e disputado que florescem experiências agroecológicas impulsionadas por organizações como a Unión de los Trabajadores Rurales Sin Tierra (UST). Ali, onde cada gota de água e espaço de solo é luta, a agroecologia emerge como estratégia de sobrevivência e afirmação identitária: produção voltada ao autoconsumo, comercialização do excedente em mercados locais, reconstrução de uma relação respeitosa com o território e com a natureza. No entanto, as ausências do Estado — a assistência técnica que não chega, as políticas públicas que vacilam — limitam a expansão de tais experiências, revelando o quanto a agroecologia ainda depende de estruturas de apoio para se enraizar plenamente.

O estudo evidencia que a transição agroecológica é menos um ato técnico do que mais um processo político. Em Nova Friburgo, o suporte institucional favoreceu a diversificação e a segurança alimentar; em Mendoza, a resistência camponesa forjou caminhos próprios, alicerçados na luta pelo acesso à terra e à água. Em ambos os casos, a agroecologia se faz na força coletiva — nas associações, nas cooperativas, nas redes que sustentam sonhos e colheitas.

Ao final, os autores sublinham que a agroecologia, para consolidar-se como um caminho efetivo de desenvolvimento territorial sustentável, demanda o fortalecimento de políticas públicas, a ampliação da assistência técnica e a valorização dos saberes tradicionais que brotam da experiência dos agricultores. Em tempos de múltiplas crises — climáticas, econômicas, sociais —, a agroecologia não se apresenta apenas como alternativa produtiva: ela desponta como horizonte ético, como projeto de sociedades mais justas, resilientes e enraizadas.

Assim, o estudo ultrapassa os muros da academia para converter-se em apelo: que se reconheçam e se multipliquem as experiências agroecológicas, que elas deixem de ser exceção para tornarem-se política de Estado.

Baixe aqui o estudo “Estratégias de produção e desenvolvimento com base na agroecologia: análise comparada de estudos de casos em Nova Friburgo, Brasil, e Mendoza, Argentina