Índice de miséria despenca e volta ao patamar do governo Lula 2

Blog do IFZ | 01/02/204

O Índice de Miséria do Brasil, combinação da taxa de inflação com a de desemprego, fechou 2023 em 12,5 pontos, o menor nível para dezembro desde 2007, quando registrou 12,3 pontos no primeiro ano do segundo mandato do presidente Lula. Os dados são do IBGE e da consultoria MB Associados.

“O ano de 2023 foi um momento em que voltamos a ver números parecidos com o que foi no passado”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB.

O resultado de 2023, aponta, é fruto da melhora conjunta do mercado de trabalho e da inflação. “As duas coisas evoluíram positivamente de forma bastante intensa.”

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), inflação oficial do país, passou de 5,8% no fim de 2022 – após chegar a bater dois dígitos em 12 meses no meio do ano – para 4,6% em dezembro de 2023. Já a taxa de desemprego no último trimestre de cada ano foi de 7,9% para 7,4%.

“Esses dois fatores contribuíram para a redução do índice de miséria, o que implica que a sensação térmica que as pessoas na rua têm das condições econômicas melhoraram”, afirma Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Pine. Nos seus cálculos, o índice de miséria fechou 2023 em 12 pontos.

Em junho de 2023, em meio à desaceleração forte da inflação, o índice chegou a um de seus valores mais baixos na série da MB, iniciada em 1996: 11 pontos, empatando com janeiro de 1999 e abaixo apenas dos 10,8 pontos de novembro e dezembro de 1998.

Naquele momento, porém, houve uma contribuição muito maior da desinflação do que da queda do desemprego, lembra Vale. “Foram os momentos finais do câmbio fixo, a inflação ficou extremamente baixa, chegou a 2%.”

Bem-estar Índice de miséria do Brasil, em ponto

A queda do índice de miséria ainda não se reflete nos índices de confiança

A melhora da “sensação térmica” da economia por parte da população ainda não aparece nos índices de confiança, que têm recuado desde meados do ano passado.

Segundo Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Pine, isso ocorre porque há certa defasagem entre a percepção da população e a realidade econômica. “Não basta sentir, as pessoas têm de ter confiança de que isso veio para ficar”, diz.

Além disso, Oliveira aponta que as condições financeiras começaram a melhorar mais para o fim de 2023, chegando agora a um campo neutro.

Expectativas para o futuro

A expectativa da MB é que o índice de miséria continue oscilando ao redor de 12 pontos, fechando 2024 em 12,1. Isso considerando uma desacelaração adicional da inflação, para 4,1%, e um desemprego médio em torno de 8%.

“Esse ano, devemos conseguir entregar a continuidade do que se alcançou no fim do ano passado”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB. “E tem todo o impacto eleitoral possível disso.”

Na visão do Pine, é a taxa de desemprego que deve ser chave para que o índice de miséria continue caindo em 2024 e 2025, para 10,5 e 9,6 pontos, pela ordem. A inflação deve ficar ao redor de 3,5% nos dois anos, segundo Oliveira, mas a taxa média de desemprego deve ir para 7,6% e, depois, 7,1%.

“Acreditamos que ela vai continuar desacelerando, seja porque as condições financeiras irão para o terreno expansionista, seja porque a economia brasileira está em um novo patamar de crescimento, que pode ser entre 2% e 2,5%, e vai acabar colocando mais pessoas no mercado de trabalho”, diz Oliveira.

Implicações políticas

Para Sergio Vale, olhando o que está sendo construído de política econômica, se não houver nenhuma crise lá fora, é possível permanecer nesse nível relativamente baixo de miséria nos próximos três anos. Isso, acrescenta, pode ter implicações políticas para além de 2024.

“Os melhores momento do indicador nos anos 2000 coincidem com a reeleição de Lula, isso foi essencial. Os números mais baixos do fim de 1998 também ajudaram na reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Acho que tem uma chance de isso acontecer de novo em 2026”, diz.

No entanto, a construção de “uma política fiscal precária” com ruídos, por outro lado, coloca dúvidas sobre a sustentabilidade desse cenário. “Mas isso poderia levar tempo para aparecer nos números, assim como o desarranjo em Lula 2 e Dilma 1 só foi impactar anos à frente”, diz Vale.

Impacto na popularidade

Para Cristiano Oliveira, do Pine, a melhora da “sensação térmica” deve se refletir em termos de popularidade, mas menos do que no passado.

“Hoje, temos uma polarização política grande. Aquele pessoal que não está nem de um lado nem de outro é quem pode ser mais sensível aos indicadores econômicos. Isso pode aparecer na popularidade do grupo no poder, mas é apenas uma parcela da população que pode se deixar levar por essa mudança no clima econômico”, afirma.

Com informações do IBGE, MB Associados, Valor Econômico, Estadão Conteúdo, UOL e Globo