Instituto Fome Zero leva à COP de Dubai uso da agroecologia no combate à fome

  • Tempo de leitura:5 minutos de leitura

Alimentos básicos diminuirão as concentrações de proteínas e minerais e as vitaminas do complexo B, se a concentração de CO2 dobrar

Por Clayton Campagnolla no BNC | 08/11/2023

O Instituto Fome Zero apresentará na 28ª Conferência das Partes (COP), em Dubai, medidas para a redução dos impactos das alterações climáticas na segurança alimentar e nutricional.

Os países reconhecem que as mudanças climáticas estão causando impacto na produção agropecuária e o Brasil não escapa das consequências do aquecimento global: chuvas e enchentes no sul e seca e aridez no norte, situações que vêm acompanhadas da fome e da insegurança alimentar.

Como sempre, a maior privação é sobre os mais vulneráveis. Mas, essa conta não será paga apenas por eles. As mudanças climáticas atingem a todos e, mesmo nas nações mais ricas, o acesso aos alimentos nutritivos será mais limitado.

A edição de 2023 do relatório da FAO sobre o estado da segurança alimentar e nutricional mostra que um adicional de 122 milhões de pessoas passaram fome no mundo, desde 2019, devido à pandemia e repetidos choques climáticos e conflitos.

Além disso, bilhões convivem com as consequências das deficiências de micronutrientes, que enfraquecem o sistema imunológico e causam doenças evitáveis.

Projeta-se, sobretudo, que quase 600 milhões de pessoas estarão cronicamente subnutridas em 2030.

O Instituto Fome Zero reconhece plenamente as graves consequências das emissões de gases de efeito estufa para os sistemas alimentares e para o aumento da insegurança alimentar e desnutrição.

Dessa forma, como consequência das mudanças climáticas, algumas áreas de produção de alimentos se tornarão cada vez mais inadequadas.

Além disso, projeta-se que os alimentos básicos diminuirão as concentrações de proteínas e minerais e as vitaminas do complexo B, se a concentração de CO2 dobrar em relação ao nível pré-industrial, o que geraria 175 milhões de pessoas deficientes em zinco e 122 milhões em proteínas.

Sugestões

Por isso, o Instituto Fome Zero considera a agroecologia como uma das escolhas mais adequadas para a transformação sustentável da agricultura familiar, resiliente ao clima e de baixo carbono e convida a comunidade internacional a tomar as seguintes ações:

1. Adotar a agroecologia como uma das abordagens mais promissoras para a adaptação e resistência às mudanças climáticas, com oferta de alimentos diversificados, seguros e nutritivos. 

2- Implantar políticas públicas que apoiem a transição, respeitando os valores locais dos agricultores; que gerem subsídios e proteção social aos agricultores familiares durante a transição e que sejam integradas a outras políticas de enfrentamento às desigualdades e o acesso à alimentação e nutrição. 

3. Criar e expandir mercados de rua para facilitar o acesso a alimentos saudáveis pela população local a preços acessíveis, reduzindo o consumo de alimentos ultraprocessados. Iniciativa que deverá ser implementada pelo governo local, promovendo mercados agroecológicos que priorizem alimentos saudáveis nas compras públicas.

4. Investir em pesquisa científica e inovação para desenvolver tecnologias e práticas agroecológicas. O conhecimento tradicional dos agricultores, aliado à inovação tecnológica, deve ser prioridade.

5. Promover o acesso dos agricultores familiares aos sistemas de informação digital para promover a expansão da agroecologia. Apoiar a rastreabilidade dos produtos e permitir relações mais justas com o mercado. Dar prioridade a investimentos com conectividade ao meio rural e acessibilidade para telemóveis, sensores e drones, capacitando, em especial, mulheres e jovens. 

Clayton Campagnolla é coordenador de Clima e Alimento do Instituto Fome Zero, Ex-Presidente da Embrapa, Ex-Líder de agricultura sustentável na FAO-Roma

Publicado no BNC – Brasil Norte Comunicação
https://bncamazonas.com.br/municipios/instituto-leva-a-cop-de-dubai-uso-da-agroecologia-no-combate-a-fome/