Marianela Zúñiga Escobar y Luis F. Fernández / Escola de Nutrición Universidad da Costa Rica | 2025
Baixe aqui o livro “Mercados Alimentarios Latinoamericanos Soberanía y Seguridad Alimentaria y Nutricional“
Estamos aqui diante de uma obra de fôlego que, partindo de um tema central e abrangente — os mercados alimentares no contexto latino-americano, em sua relação com o debate sobre soberania e segurança alimentar e nutricional e sustentabilidade — agrega, ao longo de seus 17 capítulos, uma heterogeneidade de recortes: desde análises macroestruturais até relatos de contextos locais muito específicos, sob diferentes pressupostos teórico-conceituais e mediante a participação de autoras e autores de diferentes países e campos disciplinares.
É importante lembrar que, nos bastidores de uma obra bem-sucedida, há todo um árduo processo de construção e organização que merece ser mencionado. Diante da diversidade de perspectivas, recortes e autorias, apresenta-se aqui, de forma evidente, a condução cuidadosa e atenta dos organizadores — não somente ao convocar os demais autores e autoras a se somarem à proposta do livro, mas ao construir um processo que acolhe a diversidade e lhe dá sentido, colocando-a em diálogo, o que abre espaço para o debate.
Um dos elementos interessantes do processo de construção da obra remete à própria proposta de avaliação, na qual, após as etapas iniciais de revisão por parte dos organizadores, os próprios autores revisaram capítulos de colegas (resguardando o anonimato). Essa foi, por si só, uma estratégia para provocar um diálogo transversal entre os(as) participantes. Posteriormente, ao longo do ano de 2024, foram propostos encontros, sob a designação de “diálogos de retroalimentação”, nos quais os(as) autores(as) apresentavam sucintamente seus capítulos para comentários e sugestões dos demais, reforçando a proposta dialógica de propiciar o intercâmbio de experiências e ideias durante a elaboração do livro.
Certamente, essas várias etapas contribuíram para a tessitura desta obra, que, em sua organização, apresenta uma linha norteadora que não se furta a abordar aspectos da configuração colonial subjacente à constituição latino-americana, assim como as principais crises do mundo globalizado capitalista relacionadas à questão alimentar e ambiental. A obra avança, gradualmente, para se debruçar sobre os sistemas e mercados alimentares, agregando a questão da sustentabilidade, a participação de atores e atrizes sociais envolvidos e, por fim, o indicativo de algumas saídas para as crises discutidas ao longo dos textos.
Orquestrada por essa tessitura, cada capítulo permite ao(à) leitor(a) tanto uma densa aproximação a contextos e realidades locais específicos, sob as lentes de uma abordagem etnográfica, quanto o vislumbre das especificidades do processo de estruturação de sistemas e mercados alimentares em diferentes países — ou, ainda, um olhar panorâmico comparativo entre distintos contextos regionais latino-americanos.
Além da grande contribuição acadêmica dos textos que compõem esta obra, cabe ressaltar a preocupação de fundo que a motiva: contribuir e incidir de forma efetiva no fortalecimento e na proposição de ações e políticas que enfrentem os desafios vinculados à sustentabilidade e à segurança alimentar e nutricional.
A leitura dos capítulos, além de possibilitar o acesso às especificidades de cada país ou localidade abordada, nos instiga a perceber a importância de propostas dessa natureza, que nos incitam a aprofundar os questionamentos e reflexões sobre as particularidades latino-americanas, por meio da dinamização das interlocuções entre pesquisadores(as), ativistas, instituições, gestores(as), comunidades — interlocuções essas que, embora contemporaneamente facilitadas pelos recursos tecnológicos e comunicacionais, ainda estão longe de serem plenamente aproveitadas.
Para nós, falando do sul da América do Sul, resta apenas agradecer pelo empenho de cada um(a) dos(as) 31 autores(as), colaboradores(as) e suas instituições, e reafirmar a importância de dinamizarmos, cada vez mais, os diálogos entre a Mesoamérica, o Caribe e a América do Sul — ou, simplesmente, Abya Yala.
Gabriela Peixoto Coelho de Souza
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Rumi Regina Kubo
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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