Blog do IFZ | 26/01/2025
O Projeto Cesta Básica de Alimentos Brasileira representa um marco importante na revisão e atualização das referências nutricionais e de custo associadas à alimentação da população brasileira. Desde a década de 1930, quando a primeira cesta básica oficial foi estabelecida, pouco se levou em conta as recomendações nutricionais adequadas ou as nuances culturais que caracterizam um país tão diverso. Esse projeto busca modernizar a abordagem ao alinhar-se às evidências científicas mais recentes, ao mesmo tempo que respeita os hábitos alimentares regionais e a acessibilidade econômica.
O painel do projeto está disponível para consulta em http://cestabasica.nebin.com.br/
Partindo de dados extensos sobre consumo alimentar, coletados pela Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2017 e 2018, a metodologia incluiu a identificação dos alimentos mais consumidos em diferentes estados e regiões metropolitanas. A proposta prioriza alimentos in natura ou minimamente processados, em sintonia com o Guia Alimentar para a População Brasileira, além de adotar diretrizes como as da dieta planetária da Eat-Lancet, que promove uma alimentação equilibrada e sustentável. O custo das cestas é ajustado mensalmente com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), garantindo atualidade e precisão nas estimativas.
Além de ser um instrumento para monitoramento da segurança alimentar e nutricional, a cesta básica renovada traz subsídios valiosos para formulação de políticas públicas, promoção de alimentação saudável e combate às desigualdades regionais. Com base nessa iniciativa, as adaptações locais ajudam a garantir que a cultura alimentar e o acesso econômico sejam respeitados, enquanto se promove uma alimentação mais saudável e sustentável para a população brasileira.
O que é o Projeto Cesta Básica de Alimentos Brasileira
O projeto Cesta Básica de Alimentos Brasileira representa um avanço no estabelecimento de referências quantitativas e qualitativas de alimentos para a população brasileira. A atual cesta de alimentos oficial do Brasil data da década de 1930, estabelecida por ocasião da implementação do salário mínimo para o país.
Nessa época, pouco se sabia sobre as necessidades e recomendações nutricionais para uma alimentação saudável; portanto, este não foi um aspecto incorporado na definição da cesta. Além disso, a enorme heterogeneidade cultural e social da população brasileira requer que instrumentos, seja para avaliação, seja para formulação de políticas públicas, considerem as particularidades de cada região, onde os hábitos alimentares e o acesso aos alimentos variam consideravelmente.
Nesta proposta, partimos dos alimentos adquiridos em 108 estratos econômicos e geográficos. As proporções entre os alimentos em seus respectivos grupos são o ponto de partida para a definição das quantidades dos alimentos nas diferentes cestas ao longo do país. Os alimentos e grupos de alimentos considerados na cesta são, em sua grande maioria, alimentos in natura e minimamente processados. A definição das quantidades de cada grupo de alimento foi baseada nas evidências mais atuais sobre os impactos da alimentação na saúde e no ambiente.
Em adição ao custo médio para a população brasileira, também são estimados os custos de cestas em 10 Regiões Metropolitanas: Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Grande Vitória, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.
Os preços de cada alimento são ajustados mês a mês a partir do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), divulgado mensalmente pelo IBGE para o Brasil e as 10 Regiões Metropolitanas.
Por fim, esta cesta pode ser utilizada para o monitoramento da segurança alimentar e nutricional no país, nas regiões e nos estratos de renda. Também pode fornecer subsídios importantes para políticas de acesso e promoção da alimentação saudável na população.
Metodologia
Inicialmente, foram definidos os grupos de alimentos que comporiam a cesta básica. Como referenciais teóricos para esta construção, foram considerados o Guia Alimentar para a População Brasileira e a dieta planetária Eat-Lancet Reference Diet, que sintetiza evidências científicas para a construção de um modelo de alimentação que seja saudável para as pessoas e para o planeta.
A seleção dos alimentos dentro de cada grupo foi baseada nos dados de aquisição domiciliar de alimentos, coletados no âmbito da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) conduzida pelo IBGE durante os anos de 2017 e 2018. Todos os produtos adquiridos por todos os membros do domicílio, durante o período de coleta dos dados, foram registrados na caderneta de aquisição coletiva, que incluiu: quantidade adquirida, local e forma de aquisição e valor gasto. Os valores gastos foram ajustados para o mês de janeiro de 2018. Informações sobre a amostragem, coleta dos dados e demais procedimentos metodológicos podem ser obtidas no site da pesquisa.
Para cada grupo, foram considerados os alimentos mais relatados em cada um dos estados brasileiros e no Distrito Federal. Ao todo, a lista contempla 82 itens. Em linha com o que recomenda o Guia Alimentar para a População Brasileira, a cesta incluiu, em sua grande maioria, alimentos in natura ou minimamente processados e ingredientes culinários. A quantidade de cada item dentro de cada grupo teve como base a quantidade média de compra per capita relatada em cada estado, ajustada para que, no somatório dos itens do grupo, atingisse a recomendação de consumo de grupo. Por exemplo, segundo as definições acima, a cesta deve conter 320 g de frutas. No entanto, se em um dado estado a quantidade média de aquisição foi de 100 g per capita, a quantidade de cada fruta deveria aumentar até que o total de frutas atingisse 320 g. O aumento de cada item foi proporcional à sua quantidade de compra relatada na POF. Assim, se a banana correspondeu a 20% do total de frutas compradas neste estado, ela permanecerá com este mesmo percentual na composição de frutas da cesta básica. Desta forma, o aspecto cultural da alimentação é respeitado, bem como a importância de cada item nos diferentes estados do país. A lista de alimentos que compõe a cesta foi definida por estado, mas, para facilitar a visualização, foi agrupada por grandes regiões.
Adicionalmente, foram construídas cestas para cada uma das 10 regiões metropolitanas em que há pesquisa de preço dos alimentos pelo IBGE. A construção da cesta em cada uma das regiões metropolitanas seguiu o descrito acima.
Demais adaptações incluíram: manteiga, café e expansão do grupo de cereais integrais para incluir o arroz branco, farinha de mandioca, farinha de tapioca, macarrão, pães, azeite de oliva, sal e alho.
As cestas (grandes regiões e regiões metropolitanas) fornecem aproximadamente 2000 kcal/pessoa/dia.
Variação nos preços dos alimentos
Para o ajuste mensal no preço de cada alimento, foi utilizado o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O índice nacional foi utilizado para a cesta básica no Brasil, e os índices de cada região metropolitana para ajuste do preço de sua respectiva cesta. Cada item da cesta é pareado com seu respectivo item do Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor (SNIPC).
Nos casos em que o item não é avaliado pelo IBGE, é utilizado o índice referente ao grupo a que pertence (por exemplo, se não há informação sobre a variação do preço para o quiabo, o valor referente ao grupo “Hortaliças e verduras” é adotado – Brasil ou específico por região metropolitana, quando for o caso).
Até o momento, calculamos a variação nos preços dos alimentos e o custo total da cesta básica (Brasil e regiões metropolitanas) mês a mês desde janeiro de 2018. A cada mês, são atualizadas as informações respeitando o calendário de divulgação do SNIPC.
Equipe reponsável
A equipe responsável pelo projeto é composta pelo Prof. Eliseu Verly Junior, coordenador, vinculado ao Núcleo de Epidemiologia e Biologia da Nutrição, Departamento de Epidemiologia, Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (eliseu.junior@uerj.br); Flávia Mori Sarti, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo; Semíramis Martins Álvares Domene, vinculada ao Departamento de Políticas Públicas e Saúde Coletiva da Universidade Federal de São Paulo, além de integrar o Grupo Nutrição e Pobreza, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo; e Rafael Lavourinha Pinto, também do Núcleo de Epidemiologia e Biologia da Nutrição, Departamento de Epidemiologia, Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Conheça o Projeto Cesta Básica de Alimentos Brasileira em http://cestabasica.nebin.com.br/