Enquanto PIB cresceu 2,9% em 2023, rendimentos do trabalho aumentaram 11,7% acima da inflação
Blog do IFZ | 09/03/2024
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou, nesta sexta-feira (8), os resultados de um estudo baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), indicando um crescimento significativo de 3,1% na renda habitual média dos trabalhadores brasileiros em 2023, em comparação com o ano anterior.
De acordo com as estimativas mensalizadas, a renda habitual média real em dezembro de 2023 atingiu R$ 3.100, representando um aumento de 0,7% em relação ao mês anterior e um crescimento de 3,9% em relação a dezembro de 2022, que registrou um valor de R$ 2.985. Em janeiro de 2024, a estimativa mensal avançou para R$ 3.118.
O estudo revelou que no segundo trimestre de 2023, a renda média superou pela primeira vez desde o início da pandemia a observada no mesmo trimestre de 2019, registrando um aumento de 0,6%. No quarto trimestre de 2023, esse crescimento foi ainda mais expressivo, com a renda média superando o mesmo período de 2019 em 2,1%.
Os dados indicam que os maiores aumentos na renda foram registrados nas regiões Norte (4,1%) e Nordeste (4%), entre os trabalhadores de 40 a 59 anos (4,1%) e com ensino médio completo (3,2%). No entanto, os trabalhadores com no máximo o ensino fundamental completo apresentaram queda na renda. Os crescimentos foram menores nas regiões Sul e Centro-Oeste, entre os maiores de 60 anos, homens e chefes de família.
Um ponto interessante destacado pelo estudo foi o crescimento maior na renda habitual das mulheres em comparação com a dos homens ao longo de todos os trimestres de 2023. No quarto trimestre, o aumento entre as mulheres foi de 4,2%, enquanto entre os homens foi de 2,5%.
Quanto ao tipo de vínculo, os empregados do setor privado sem carteira foram os que apresentaram maior crescimento interanual da renda no quarto trimestre de 2023, com 6,9%. Os trabalhadores autônomos, após alguns trimestres de forte elevação nos rendimentos, tiveram um aumento de apenas 0,3% em relação ao mesmo trimestre de 2022. Por outro lado, os trabalhadores do setor público e os empregados com carteira assinada registraram altas de 3,9% e 2,1%, respectivamente.
No que diz respeito aos setores econômicos, o quarto trimestre de 2023 apresentou queda na renda no transporte (-1,7%) e na construção (-3,8%), em relação ao mesmo período de 2022. Por outro lado, os trabalhadores da indústria (5,7%), do comércio (5,9%) e da administração pública (4,6%) registraram as maiores altas no último trimestre do ano passado. Destaca-se ainda a recuperação da renda na agricultura (0,9%), após uma forte queda de 4,6% no trimestre anterior.
Os resultados da PNAD Contínua do quarto trimestre de 2023 fornecem um retrato detalhado dos rendimentos do trabalho no Brasil, destacando tendências e variações significativas ao longo do ano.
Retrato dos rendimentos do trabalho – resultados da PNAD Contínua do quarto trimestre de 2023
Por Sandro Sacchet de Carvalho no site do IPEA
Os dados dos rendimentos do trabalho do quarto trimestre de 2023 apresentaram uma nova elevação em relação ao trimestre anterior, consolidando o aumento da renda no segundo semestre de 2023, após uma relativa estabilidade ao longo do primeiro. O crescimento interanual da renda habitual média foi de 3,1%. Estimativas mensais mostram que o rendimento médio real em dezembro de 2023 (R$ 3.100,00) foi 0,7% maior que o observado no mês anterior (R$ 3.078,00) e 3,3% superior ao valor de junho do mesmo ano, além de 3,9% maior que o valor registrado em dezembro de 2022 (R$ 2.985,00). Em janeiro de 2024, a estimativa mensal avançou para R$ 3.118,00. No segundo trimestre de 2023, a renda média se manteve acima da observada no mesmo trimestre de 2019 pela primeira vez desde a pandemia (0,6%). Já no quarto trimestre de 2023, a renda média superou o mesmo trimestre de 2019 em 2,1%.
Por grupos demográficos, os maiores aumentos na renda na comparação com o mesmo período de 2022 foram registrados no Norte e no Nordeste, entre os trabalhadores adultos (entre 40 e 59 anos) e com ensino médio completo. Apenas trabalhadores com ensino fundamental completo ou escolaridade inferior apresentaram queda na renda. O crescimento foi menor para os que habitam no Sul e no Centro-Oeste, os maiores de 60 anos, homens e os chefes de família.
Na análise por tipo de vínculo, foram os empregados sem carteira assinada que apresentaram o maior crescimento interanual da renda, com um aumento de 7,2%. Após alguns trimestres com forte elevação da renda, os trabalhadores autônomos obtiveram um aumento de 1,0% da renda em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Por sua vez, os trabalhadores do setor público mostraram um crescimento de 3,8%, e os empregados com carteira assinada, de 2,7%.
Por setor, no quarto trimestre de 2023, houve queda da renda nos setores de transporte e construção, com redução interanual da renda habitual de 1,7% e 3,8% respectivamente. Já os trabalhadores da indústria, comércio e administração pública mostraram crescimento superior a 4,5%. Destaca-se a recuperação da renda na agricultura, que cresceu 0,9% no quarto trimestre, após forte queda no trimestre anterior.
Após o pico de desigualdade causado pela pandemia, o índice de Gini se reduziu continuamente até o primeiro trimestre de 2022. No entanto, o segundo trimestre de 2022 apresentou uma reversão da queda da desigualdade da renda observada, que continuou no terceiro trimestre, tendo o índice da renda domiciliar se mantido relativamente estável desde então. No quarto trimestre de 2023, o índice de Gini da renda domiciliar subiu para 0,523. Já o índice de Gini da renda individual apresentou uma queda maior desde o terceiro trimestre de 2022 até o segundo trimestre de 2023 e elevou-se de 0,492 para 0,495 entre o terceiro e quarto trimestres de 2023.
Fonte: IPEA