Cru, assado ou cozido no vapor. Há mil maneiras de apreciar um vegetal que passou a fazer parte de vários tipos de dietas por seu sabor e propriedades nutricionais. Mas o que há por trás desse e de outros superalimentos?
Por Cristina Crespo Garay na National Geographic Brasil | 02/08/2023
Já faz muito tempo que ouvir falar sobre superalimentos ou alimentos saudáveis não é nenhuma novidade. Seja qual for o motivo, a rejeição aos alimentos ultraprocessados está crescendo. Ao longo do caminho, vários alimentos estão chegando ao estrelato da moda, como quinoa, kale, kombucha ou bagas de goji.
Agora é a vez do bimi, conhecido como “super brócolis”. Esse vegetal, com caule semelhante ao aspargo e flor parecida com o brócolis, surgiu no Japão a partir da hibridização natural do brócolis e de uma variedade de repolho chamada kai-lan, em 1993.
Rico em vitamina C e D, cálcio, ácido fólico, ferro e fibras, esse vegetal tem mais zinco, ácido fólico, antioxidantes e vitamina C do que brócolis, couve, espinafre ou aspargo verde. Além disso, de acordo com um estudo da Universidade Politécnica de Cartagena, Espanha, suas propriedades anticarcinogênicas, antioxidantes e anti-inflamatórias são maiores, pois seus nutrientes são mais bem absorvidos.
Tido como milagroso, o bimi foi logo considerado um superalimento. Entretanto, “as pessoas podem interpretar erroneamente esses superalimentos que estão consumindo como uma compensação por uma dieta ruim. Não devemos falar de um alimento que ajuda a curar ou prevenir algo, mas de um padrão alimentar saudável”, adverte o nutricionista Aitor Sánchez García, no livro Mi dieta cojea. Por outro lado, “o mundo das alegações de saúde em torno desses alimentos é muito frouxo, cheio de mentiras e meias-verdades”, complementa.
Mais de 15 000 postagens no Instagram com a hashtag bimi encantam qualquer um que veja os pratos com o vegetal. A imaginação voa entre ensopados, refogados, saladas, tortas, ovos mexidos e até pizzas cheias desse alimento.
Múrcia, na Espanha, é uma das maiores regiões europeias produtoras desse novo vegetal. Com um manejo um pouco mais cuidadoso, o bimi não precisa de mais requisitos agrícolas do que seu parente brócolis.
Superalimentos: sim ou não?
Aitor Sánchez adverte que, devido à falta de educação nutricional geral, tendemos a dar mais importância a um nutriente específico do que a uma dieta completa como um todo. “Algumas pessoas comem um hambúrguer de carne orgânica com pão de semente de papoula e já acham que estão se alimentando de forma saudável”.
Superalimento: o uso dessa palavra se popularizou, especialmente na linguagem cotidiana, mas não há uma definição técnica que nos diga do que se trata. Às vezes, ela é simplesmente aplicada a um alimento que é mais completo do que o restante de seu grupo.
Mi dieta cojea nos oferece uma série de dicas sobre os superalimentos que estão se tornando moda, concentrando-se principalmente na importância de ter uma visão global de nossa dieta. Aitor Sánchez sugere prestar atenção às quantidades: uma boa porção saudável não pode ser substituída por quatro bagas de goji, por exemplo, assim como devemos evitar tudo o que nos é vendido como se tivesse propriedades milagrosas.
“Quando propriedades curativas ou preventivas são atribuídas a um único alimento, tome cuidado. A prevenção se baseia no estado nutricional como um todo, e não em alguns nutrientes”.
Por outro lado, o ponto-chave para os especialistas é que “terá mais impacto se você comer saladas ou pratos de vegetais, legumes, frutas, nozes e frutas secas todos os dias do que se comer alguns mirtilos esporadicamente”.
Superalimentos: não esqueça da sustentabilidade
Há uma década, os agricultores andinos da Bolívia, Peru, Chile e Equador estavam comendo quinoa da noite para o dia. Hoje, 175 toneladas de quinoa são consumidas na Espanha todos os anos, de acordo com dados da Agência Espanhola de Assuntos do Consumidor, Segurança Alimentar e Nutrição.
A moda ocidental fez com que os preços disparassem a ponto de provocar verdadeiras crises agrícolas do outro lado do oceano, às quais mal prestamos atenção.
Mas o conflito não termina nas margens das comunidades agrícolas negligenciadas, e acaba levando a marca dessas modas muito além. Na maioria das vezes, os chamados superalimentos não são provenientes de culturas locais e sazonais.
Alimentos saudáveis, como o coco ou a quinoa, vêm de lugares tão distantes quanto a Nova Zelândia, o Peru ou a Indonésia, causando um enorme impacto ambiental para obter nutrientes que também são encontrados em produtos locais.
Publicado originalmente na National Geographic Brasil
https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2023/08/saiba-qual-e-a-ultima-moda-da-alimentacao-saudavel