Variação sazonal dos preços dos alimentos no Brasil, 2022 a 2025

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Por José Giacomo Baccarin e Gustavo Jun Yakushiji | 17/03/2025

Introdução

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Quando se analisam os preços dos alimentos é oportuno considerar dois movimentos, um ao longo de vários anos (estrutural) e o outro dentro de determinado ano (sazonal). A colheita dos produtos agrícolas, de maneira geral, não ocorre em todos os meses do ano, com tendência a se concentrar em período relativamente pequeno, quando os preços tendem a cair. No caso da criação de animais não confinados há tendência semelhante. A flutuação dos preços agrícolas acaba por refletir, com intensidade diferenciada, nos alimentos derivados.

Faz-se uma comparação entre as variações mensais nos preços dos alimentos vis a vis o conjunto dos preços ao consumidor no Brasil, entre julho de 2022 e fevereiro de 2025. Usam-se informações do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), comparando, inicialmente, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) e o IPAB (Índice de Preços de Alimentação e Bebidas), um dos nove grupos que compõem o IPCA. Também se comparam o IPAD (Índice de Preços da Alimentação no Domicílio) e o IPAF (Índice de Preços da Alimentação Fora do Domicílio), que são os dois subgrupos do IPAB (IBGE, 2025).

Em vez do calendário civil, considerou-se a extensão do ano agrícola no Brasil, de julho de um ano a junho do ano seguinte.

Resultados

A Tabela 1 traz algumas estatísticas básicas das variáveis estudadas. Percebe-se que em todos os anos, na média, o IPAB esteve acima do IPCA. Julga-se precipitado afirmar que há uma tendência de elevação tanto do IPCA quanto do IPAB, ao longo dos anos, posto que as informações de 2024/25 referem ao acontecido até fevereiro de 2025. Os valores do desvio padrão e do coeficiente de variação indicam que as flutuações nos preços dos alimentos são mais expressivas que as do conjunto de bens e serviços consumidos. Isto, visualmente, fica mais claro ao se observar a Figura 1. Nos anos 2023/24 e 2024/25, percebe-se que os preços dos alimentos tendem a ficar mais caros nos meses do verão e caírem entre o outono e o inverno, quando a colheita de grãos já ocorreu e a produção de olerícolas aumenta. O fato desta flutuação sazonal não ficar nítida em 2022/23 pode ser explicado pelo predomínio do efeito observado durante a Covid 19. Os preços agrícolas apresentaram forte aumento a partir de 2020, atingindo seu pico histórico em março de 2022, seguido de queda a partir de então (FAO, 2025).

Tabela 1 – Estatísticas básicas de componentes do IPCA, Brasil, julho de 2022 a fevereiro de 2025
Figura 1 – Variação mensal do IPCA e do IPAB, julho de 2022 a fevereiro de 2025, Brasil

Outra observação é que a flutuação sazonal do IPAB acaba por, parcialmente, refletir-se na flutuação sazonal do IPCA. Isto pela importância, próxima a 20%, do IPAB no IPCA. Contudo, não se deve descartar que outros grupos do IPCA também apresentam sazonalidade, como a Educação, cujos preços aumentam muito no início do calendário escolar.

Quando, pela Tabela 1 e Figura 2, se comparam os subgrupos da Alimentação e Bebidas, na média, suas variações não foram muito diferentes, de junho de 2022 a fevereiro de 2025. Contudo, o IPAD apresentou flutuações sazonais muito mais expressivas, indicando uma relação mais próxima com as flutuações dos preços agrícolas. No caso da Alimentação Fora do Domicílio é possível que seus preços sofram impactos maiores dos salários e dos preços de serviços urbanos, cuja flutuações são de menor monta.

Figura 2 - Variação mensal do IPAD e do IPAF, julho de 2022 a fevereiro de 2025, Brasil

Consideração Final

Para melhor compreensão das variações dos preços dos alimentos no Brasil é importante considerar os processos ao longo dos anos e as variações sazonais. Sugere-se que a análise relativa ao ano de 2025 tenha algum cuidado, antes que se estabeleça o diagnóstico de que a inflação ao consumidor e, especificamente, a inflação dos alimentos estão se agravando. Esperar os acontecimentos até o meio do ano de 2025, talvez, seja uma boa prevenção para que não se queime a língua.

Referências

FAO. Índice de precios de los alimentos de la FAO. Food and Agriculture Organization, 2025. Disponível em: https://www.fao.org/worldfoodsituation/foodpricesindex/en/ Acesso em: 7 mar 2025.

IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Índice de Preços ao Consumidor Amplo. Disponível em https://sidra.ibge.gov.br/home/ipca/brasil Acesso em 15 de março de 2025.

José Giacomo Baccarin é Professor Economia Rural e Política Agrícola UNESP, campus Jaboticabal (SP). Credenciado Pós-Graduação Geografia UNESP, campus Rio Claro (SP). Diretor Instituto Fome Zero. E-mail: jose.baccarin@unesp.br

Gustavo Jun Yakushiji é Engenheiro Agrônomo e Mestrando em Estatística e Experimentação Agronômica pela ESALQ/USP.

Baixe aqui o estudo “Variação sazonal dos preços dos alimentos no Brasil, 2022 a 2025