Brasil alcança índice que o retira oficialmente do Mapa da Fome, segundo relatório SOFI 2025

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Blog do IFZ | 28/07/2025

Foi divulgado nesta segunda-feira (28), em Adis Abeba, Etiópia, o relatório State of Food Security and Nutrition in the World (SOFI) 2025, documento conjunto da FAO, OMS, UNICEF, IFAD e WFP que monitora o panorama global da insegurança alimentar. Nele, a confirmação que já era esperada por técnicos e gestores: o Brasil atingiu, de forma sustentada, o índice de segurança alimentar que o retira oficialmente do Mapa da Fome da ONU. Após três anos de reconstrução de políticas públicas, o país registra uma taxa de subalimentação inferior a 2,5% da população, limite estabelecido pela FAO para classificar um país fora da condição de fome endêmica. O dado encerra um ciclo iniciado com o retorno do Brasil à lista em 2021, motivado pela crise sanitária e social da pandemia, e marca o fim de um intervalo histórico no qual 33 milhões de pessoas chegaram a enfrentar insegurança alimentar grave.

A reversão do quadro não se deu por soluções de curto prazo, mas por uma arquitetura robusta de políticas articuladas. Desde 2023, o governo federal reestruturou programas estratégicos como o Bolsa Família — com novos critérios, adicionais e mecanismos de transição —, restaurou o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e lançou o Plano Brasil Sem Fome, que agrega mais de 80 ações federais com foco na soberania alimentar. Em paralelo, o III Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Plansan 2025–2027), aprovado em julho, consolidou diretrizes de longo prazo, incluindo acesso à terra e à água, apoio à agricultura familiar, resposta aos efeitos climáticos e combate às desigualdades regionais. Esses esforços coincidem com a expressiva queda da pobreza e da pobreza extrema, que passaram de 37% e 9% em 2021 para 23% e 4,4% em 2024, segundo o Banco Mundial. Dados do Cadastro Único mostram que 98,8% das vagas formais criadas em 2024 foram ocupadas por pessoas em situação de vulnerabilidade, indicando um ciclo virtuoso de inclusão produtiva. O Brasil, que em 2014 havia deixado o Mapa da Fome pela primeira vez, volta a alcançar esse feito em tempo recorde — desta vez, após menos de três anos de reconstrução institucional.

A melhoria das condições de vida também se reflete em outro indicador relevante: o aumento da renda das famílias. Em julho, cerca de um milhão de domicílios deixaram voluntariamente o Bolsa Família por já não atenderem aos critérios de elegibilidade, muitos após cumprirem o período de transição previsto na Regra de Proteção. Desde 2023, mais de 8,6 milhões de famílias saíram do programa, não por exclusão arbitrária, mas porque superaram a linha de vulnerabilidade econômica. O dado reforça um dos efeitos estruturantes do Bolsa Família em sua nova fase: além de reduzir a fome, tem promovido mobilidade social e fortalecimento da autonomia familiar — uma política que, ao proteger, também prepara para a saída digna do sistema de assistência.

Como a FAO avalia a condição nutricional dos países

Desenvolvido pela FAO, o Indicador de Prevalência de Subalimentação (PoU, da sigla em inglês Prevalence of Undernourishment) é a ferramenta central para monitorar o progresso rumo à erradicação da fome, conforme o ODS 2.1.1. Subalimentação é definida como a condição de um indivíduo que, de forma habitual e contínua, consome menos energia alimentar (kcal/dia) do que o mínimo necessário para uma vida ativa e saudável. O PoU não é uma simples contagem de pessoas abaixo desse limite, mas uma estimativa baseada em um modelo estatístico que combina três parâmetros: o consumo médio de energia alimentar per capita, a desigualdade nesse consumo (medida pelo coeficiente de variação) e o requisito mínimo de energia (MDER), calculado segundo idade, sexo, atividade física e dados antropométricos. Inspirado pelo estatístico P. V. Sukhatme, o método considera que parte da variabilidade no consumo se deve a diferenças naturais nas necessidades energéticas. Por isso, a FAO utiliza distribuições probabilísticas — geralmente log-normais — para estimar a proporção da população em situação crônica de fome. Um país é incluído no “mapa da fome” quando o PoU estimado supera 5%; ao cair abaixo desse limite, pode ser retirado. Estar fora do mapa, porém, não significa ausência total de insegurança alimentar, mas sim que a parcela da população em fome crônica é estatisticamente pequena, segundo os critérios internacionais.