COP28: Mundo se aproxima do ponto de ruptura de desastres ambientais

A mensagem é do “Global Tipping Points Report 2023”, a maior avaliação do gênero já feita e que envolveu o trabalho de mais de 200 autores de 25 instituições internacionais

Por Daniela Chiaretti* no Valor | 05/12/2023

DUBAI | Cincos pontos de inflexão dos sistemas terrestres, como o colapso de grandes camadas de gelo à mortalidade de recifes de corais de águas quentes, estão sob risco de serem ultrapassados em função do aquecimento global. Outros três estarão ameaçados na década de 2030, se o aumento da temperatura ultrapassar 1,5°C.

O mundo se aproxima rapidamente de pontos de ruptura de alto impacto e que podem ocasionar uma sequência de desastres ambientais pelo planeta.

Essa mensagem direta é do “Global Tipping Points Report 2023”, a maior avaliação do gênero já feita e que envolveu o trabalho de mais de 200 autores de 25 instituições internacionais. Foi liderado por Timothy Lenton, do Global Systems Institute, da Universidade de Exeter e será lançado nesta quarta-feira (6), na COP28, em Dubai. Foi financiado pelo Bezos Earth Fund.

Um ponto de inflexão acontece quando uma mudança desencadeia uma transformação rápida e irreversível. Os efeitos podem ser positivos ou negativos.

Os “tipping points”, explica Lenton, “podem desencadear efeitos dominó devastadores, incluindo a perda de ecossistemas inteiros e a capacidade de cultivar culturas básicas, com impactos sociais que incluem deslocamento em massa, instabilidade política e colapso financeiro”.

Mas há aspectos positivos. “Os pontos de inflexão também oferecem nossa melhor esperança: precisamos priorizar e desencadear pontos de inflexão positivos em nossas sociedades e economias. Isso já está acontecendo em áreas que vão desde energia renovável e veículos elétricos até movimentos sociais e dietas baseadas em plantas. Agora é o momento de desencadear uma cascata de pontos de virada positivos para garantir um futuro seguro, justo e sustentável para a humanidade”, continua ele.

O relatório aponta para o fato de as pressões ambientais se tornarem tão graves que grandes partes do mundo natural serão incapazes de manter o seu estado atual, conduzindo a mudanças abruptas ou irreversíveis.

Cinco dos principais sistemas terrestres já estão sob risco de ultrapassar os “tipping points” com o atual nível de aquecimento: as camadas de gelo da Groenlândia e da Antártica Ocidental, os recifes de coral de águas quentes, a circulação da corrente subpolar do Atlântico Norte e as regiões de permafrost (as camadas orgânicas que são cobertas por gelo em regiões do hemisfério Norte).

Os cientistas fizeram uma avaliação de 26 pontos de inflexão negativos do sistema terrestre. O relatório conclui que a manutenção do status quo já não é possível, pois já estão acontecendo alterações rápidas na natureza e nas sociedades, e outras estão para vir.

Os danos causados pelos pontos de rutura negativos serão muito maiores do que o seu impacto inicial, continuam os cientistas.

“Os efeitos serão sentidos em cascata pelos sistemas sociais e econômicos globalizados e poderão exceder a capacidade de adaptação de alguns países”, diz a nota divulgada à imprensa.

Segundo o estudo, não basta alcançar a neutralidade líquida de carbono até 2050 — os governos precisam eliminar gradualmente os combustíveis fósseis e as emissões do desmatamento. Isso tem que ser decidido agora. “Os pontos de ruptura negativos mostram que a ameaça representada pela crise climática e ecológica é muito mais grave do que é, no geral, entendido e é de uma magnitude nunca antes enfrentada pela humanidade.”

Recomendações urgentes

Os cientistas fazem seis recomendações urgentes. Reduzir gradualmente os combustíveis fósseis e as emissões provenientes da mudança no uso da terra e eliminá-los totalmente bem antes de 2050. Reforçar a governança e a adaptação além do mecanismo de perdas e danos, reconhecendo a desigualdade entre os países. Incluir os pontos de inflexão no Global Stock Take (inventário climático global) e nos compromissos dos países. Fazer esforços políticos para acionar pontos de inflexão positivos. Convocar uma cúpula global sobre esse tema e pedir ao Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC) um relatório especial sobre esse tópico.

A jornalista viajou à COP 28 a convite do Instituto Clima e Sociedade (iCS)

Publicado no Valor Econômico
https://valor.globo.com/google/amp/mundo/cop28/noticia/2023/12/05/cop28-mundo-se-aproxima-do-ponto-de-ruptura-de-desastres-ambientais.ghtml